Juristas negros pedem na Fifa que presidente da Conmebol seja expulso após declaração racista contra clubes brasileiros

Jusracial diz que comparação feita por Alejandro Domínguez de que Libertadores sem clubes brasileiros é "Tarzan sem Chita” é uma ofensa "inadmissível" aos atletas e clubes do Brasil e vai contra o regulamento da própria entidade. Declaração de presidente da Conmebol provoca repúdio do governo e de jogadores brasileiros A associação Jusracial, formada por juristas e advogados negros, apresentou nesta quarta-feira (19) uma representação à Fifa solicitando a expulsão de Alejandro Domínguez, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). O pedido se baseia em declarações consideradas racistas feitas por Domínguez contra o futebol brasileiro e seus atletas. A ação aponta que Domínguez, que também é vice-presidente da própria Fifa para a América do Sul, foi altamente racista ao dizer durante o sorteio da Libertadores da América, na segunda-feira (17) no Paraguai, que a ausência de futebol brasileiro na competição por problemas de racismo “seria como Tarzan sem Chita”. Na avaliação de Hédio Silva Jr, representante da Jusracial, a fala do presidente da Conmebol “é inaceitável” e uma ofensa "inadmissível" aos atletas e clubes do Brasil. “Domínguez não apenas minimiza o racismo no futebol, mas naturaliza a ofensa racial como algo aceitável. Isso é inadmissível. Se a Fifa quer ser levada a sério no combate ao racismo, precisa bani-lo do futebol”, afirmou. Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol Jorge Adorno/Reuters No pedido, os juristas negros dizem que a expulsão de Alejandro Domínguez da Fifa se baseia no próprio estatuto da entidade, que nos artigos 3º, 4º, 5º e 8º “vedam expressamente condutas discriminatórias e preveem sanções severas para casos de racismo”. A Jusracial também aponta que o Código Disciplinar da Fifa também proíbe comportamentos como o de Domínguez, nos seus artigos 11 e 13. “Não há espaço para discursos racistas no futebol mundial. A Fifa precisa dar exemplo e aplicar sanções proporcionais à gravidade do ocorrido”, disse Hédio Silva Jr. O grupo argumenta que Alejandro Domínguez é reincidente em declarações racistas e que isso compromete a credibilidade da Conmebol, tornando a permanência dele no cargo “insustentável”. O pedido protocolado solicita que a FIFA tome uma posição firme, garantindo que o futebol seja um espaço de respeito e igualdade. Logotipo da FIFA apresentado na fachada da entidade em Zurich, na Suíça Michael Probst/AP Outras ações Jogadores do Palmeiras Sub-20 são vítimas de racismo no Paraguai: ‘Até quando?’ Além de ir à Fifa, os advogados da Conmebol também notificaram extrajudicialmente a Conmebol por omissão e corresponsabilização no caso de racismo sofrido pelo jogador brasileiro Luighi, atacante do Palmeiras, em jogo válido pela Libertadores sub-20, no Paraguai. O atacante Luighi foi alvo de uma ofensa racista por parte de um torcedor do Cerro Porteño, enquanto vencia a partida por 3 a 0. O torcedor imitou um macaco na direção do jogador, que também recebeu uma cusparada enquanto se dirigia ao banco de reservas. A entidade também acionou o Ministério Público Federal (MPF) para que investigue a atuação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no caso envolvendo o atleta do Palmeiras. Por causa da ação, os procuradores do MPF no Rio de Janeiro anunciaram a abertura de um inquérito civil para analisar possível omissão da CBF no caso. Campanha do MPF contra atos racistas no futebol brasileiro. Reprodução/MPF Na avaliação do órgão, o caso envolvendo o jogador sub-20 do Palmeiras ocorre” em um contexto no qual o racismo tem gerado reações superficiais e pouco concretas no campo esportivo, como notas oficiais, postagens em redes sociais e faixas nos campos”. Para os procuradores, o cenário impõe dois desafios. O primeiro é o “posicionamento firme e contundente do Estado brasileiro e das organizações que representam o futebol do país quanto ao enfrentamento do racismo e ao dever de prevenir atrocidades massivas.” “Diante dos fatos, o MPF abriu o inquérito para apurar as condutas com fundamento no dever de prevenção da ocorrência de racismo no futebol, com base na Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação e Formas Correlatas de Intolerância. Além disso, destaca as obrigações internacionais assumidas pelo Brasil e as normas da Constituição Federal de 1988. O documento aponta que o caso abrange a liberdade de expressão e o discurso de ódio, além do papel do esporte na prevenção do racismo”, disse o órgão”, afirmam os procuradores. Atacante do Palmeiras sub-20 é vítima de racismo no Paraguai

Mar 20, 2025 - 15:00
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Juristas negros pedem na Fifa que presidente da Conmebol seja expulso após declaração racista contra clubes brasileiros

Jusracial diz que comparação feita por Alejandro Domínguez de que Libertadores sem clubes brasileiros é "Tarzan sem Chita” é uma ofensa "inadmissível" aos atletas e clubes do Brasil e vai contra o regulamento da própria entidade. Declaração de presidente da Conmebol provoca repúdio do governo e de jogadores brasileiros A associação Jusracial, formada por juristas e advogados negros, apresentou nesta quarta-feira (19) uma representação à Fifa solicitando a expulsão de Alejandro Domínguez, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). O pedido se baseia em declarações consideradas racistas feitas por Domínguez contra o futebol brasileiro e seus atletas. A ação aponta que Domínguez, que também é vice-presidente da própria Fifa para a América do Sul, foi altamente racista ao dizer durante o sorteio da Libertadores da América, na segunda-feira (17) no Paraguai, que a ausência de futebol brasileiro na competição por problemas de racismo “seria como Tarzan sem Chita”. Na avaliação de Hédio Silva Jr, representante da Jusracial, a fala do presidente da Conmebol “é inaceitável” e uma ofensa "inadmissível" aos atletas e clubes do Brasil. “Domínguez não apenas minimiza o racismo no futebol, mas naturaliza a ofensa racial como algo aceitável. Isso é inadmissível. Se a Fifa quer ser levada a sério no combate ao racismo, precisa bani-lo do futebol”, afirmou. Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol Jorge Adorno/Reuters No pedido, os juristas negros dizem que a expulsão de Alejandro Domínguez da Fifa se baseia no próprio estatuto da entidade, que nos artigos 3º, 4º, 5º e 8º “vedam expressamente condutas discriminatórias e preveem sanções severas para casos de racismo”. A Jusracial também aponta que o Código Disciplinar da Fifa também proíbe comportamentos como o de Domínguez, nos seus artigos 11 e 13. “Não há espaço para discursos racistas no futebol mundial. A Fifa precisa dar exemplo e aplicar sanções proporcionais à gravidade do ocorrido”, disse Hédio Silva Jr. O grupo argumenta que Alejandro Domínguez é reincidente em declarações racistas e que isso compromete a credibilidade da Conmebol, tornando a permanência dele no cargo “insustentável”. O pedido protocolado solicita que a FIFA tome uma posição firme, garantindo que o futebol seja um espaço de respeito e igualdade. Logotipo da FIFA apresentado na fachada da entidade em Zurich, na Suíça Michael Probst/AP Outras ações Jogadores do Palmeiras Sub-20 são vítimas de racismo no Paraguai: ‘Até quando?’ Além de ir à Fifa, os advogados da Conmebol também notificaram extrajudicialmente a Conmebol por omissão e corresponsabilização no caso de racismo sofrido pelo jogador brasileiro Luighi, atacante do Palmeiras, em jogo válido pela Libertadores sub-20, no Paraguai. O atacante Luighi foi alvo de uma ofensa racista por parte de um torcedor do Cerro Porteño, enquanto vencia a partida por 3 a 0. O torcedor imitou um macaco na direção do jogador, que também recebeu uma cusparada enquanto se dirigia ao banco de reservas. A entidade também acionou o Ministério Público Federal (MPF) para que investigue a atuação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no caso envolvendo o atleta do Palmeiras. Por causa da ação, os procuradores do MPF no Rio de Janeiro anunciaram a abertura de um inquérito civil para analisar possível omissão da CBF no caso. Campanha do MPF contra atos racistas no futebol brasileiro. Reprodução/MPF Na avaliação do órgão, o caso envolvendo o jogador sub-20 do Palmeiras ocorre” em um contexto no qual o racismo tem gerado reações superficiais e pouco concretas no campo esportivo, como notas oficiais, postagens em redes sociais e faixas nos campos”. Para os procuradores, o cenário impõe dois desafios. O primeiro é o “posicionamento firme e contundente do Estado brasileiro e das organizações que representam o futebol do país quanto ao enfrentamento do racismo e ao dever de prevenir atrocidades massivas.” “Diante dos fatos, o MPF abriu o inquérito para apurar as condutas com fundamento no dever de prevenção da ocorrência de racismo no futebol, com base na Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação e Formas Correlatas de Intolerância. Além disso, destaca as obrigações internacionais assumidas pelo Brasil e as normas da Constituição Federal de 1988. O documento aponta que o caso abrange a liberdade de expressão e o discurso de ódio, além do papel do esporte na prevenção do racismo”, disse o órgão”, afirmam os procuradores. Atacante do Palmeiras sub-20 é vítima de racismo no Paraguai