Último bastião do PSDB, Alesp vislumbra debandada tucana

Enquanto futuro do partido é debatido em nível nacional, deputados estaduais atribuem crise à falta de diálogo e a Aécio; ao mesmo tempo, articulam possíveis migrações. Bancada do PSDB na Alesp Montagem/Alesp Quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) venceu a disputa pelo governo de São Paulo em 2022, um ciclo de quase três décadas chegou ao fim. Afinal, desde 1994, em sete eleições consecutivas, o PSDB venceu a disputa para o Palácio dos Bandeirantes. A vitória de Tarcísio quebrou essa hegemonia e colocou os tucanos diante de um cenário inédito: pela primeira vez em 28 anos, não tinham um governador no estado que sempre foi seu principal bastião. A derrota de Rodrigo Garcia foi o desfecho de uma crise que já vinha se desenhando, agravada por disputas internas entre João Doria e outras lideranças do partido. O racha levou o PSDB a abrir mão de uma candidatura própria à Presidência em 2022 —fato inédito em sua trajetória. Dois anos depois, outro agravamento: na janela partidária de 2024, oito vereadores tucanos da capital paulista deixaram a legenda, em abril. Em outubro, mais golpes: o partido não conseguiu eleger prefeitos em nenhuma capital brasileira, nem obteve representação na Câmara Municipal de São Paulo. Agora, com seu futuro incerto, o PSDB vê a possibilidade de fusão ou até mesmo de ser absorvido por outras siglas. Um dos últimos refúgios do partido é a Assembleia Legislativa de São Paulo, onde ainda é a terceira maior bancada —atrás de PL e PT—, com os seus 9 deputados somados aos 3 do Cidadania, com quem está federado até 2026. O g1 procurou os parlamentares tucanos para entender como eles enxergam esse cenário de perda de protagonismo do partido. A maior parte atendeu à reportagem. Os deputados Barros Munhoz, Carlão Pignatari, Mauro Bragato e Rogério Nogueira concordaram com que seus nomes fossem divulgados. Os demais pediram anonimato, para evitar eventuais represálias da Executiva Nacional do partido. Insatisfação com Aécio De maneira geral, os deputados citam uma insatisfação com a direção nacional do partido, presidido por Marconi Perillo. "Estamos sendo vendidos como um pacote", diz um parlamentar, sobre a falta de diálogo."Tirou-se toda a autoridade da executiva estadual, a liberdade e o poder de decisão da municipal também. Concentraram os poderes na mão de Aécio Neves, que não é um líder respeitado pelos deputados, por conta de toda a situação dele." Outro parlamentar lembra que o estado foi protagonista no pedido de expulsão de Aécio do partido. "Nós pedimos a expulsão dele, foi por aqui (SP) que saiu. E o Aécio não perdoou isso. Foi ele que fez todo esse movimento de lançar o Leite, que na verdade foi só para bater de frente com São Paulo, e acabar enfraquecendo o partido no estado", diz, em referência à briga interna pela candidatura à Presidência da República em 2022, quando João Doria venceu as prévias do partido, mas foi barrado em detrimento do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. A queda de braço teria sido, portanto, represália ao pedido de afastamento de Aécio feito por Doria. "É aquela coisa, 'levo a bola embora porque eu não vou jogar'. Aquela criancinha mimada. Então, não tivemos candidato, e isso matou o PSDB. Não foi o Doria, o Doria não traiu o Alckmin. O Aécio Neves destruiu o partido. E agora ele não quer uma fusão." O Aécio Neves que é o dono do partido hoje, e ele não quer perder os R$ 200 milhões do fundo eleitoral. Vai querer disputar (as eleições). Aí, quando não atingir a cláusula de desempenho, vai ter que fundir. A federação com o Cidadania teria sido também uma decisão monocrática de Aécio. "Não foi feita uma eleição dentro dos diretórios estaduais e municipais para saber se a gente queria. A gente tem diferenças regionais com o Cidadania." A formação de uma federação foi uma dentre várias medidas encaradas como autoritárias. "A gente elegeu aqui em São Paulo o (Marco) Vinholi de novo. Ele foi eleito quase por unanimidade (para presidente do diretório estadual). Cancelaram a eleição e nomearam o Paulo Serra. Isso tudo enfraqueceu o PSDB. Nem os próprios militantes aceitam. Falam: 'Eu votei que era para ir o Doria, não foi. Agora eu votei para o Vinholi continuar, não continuou. Então para que que a gente serve?'" Distanciamento Outro ponto levantado pelos parlamentares é a falta de identificação com o que a legenda se tornou nos últimos anos. Citam o exemplo de tucanos históricos como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, que governou o estado por 12 anos e se desfiliou para integrar a chapa de Lula à Presidência, pelo PSB. "Estamos nos sentindo deslocados da origem do nosso partido, da questão ideológica, de líderes que a gente respeita e que fizeram história no país e no estado de São Paulo. Hoje, nós estamos sem líder." O decano Mauro Bragato iniciou a vida como deputado estadual há 46 anos e é outro que aponta esse afastamento. "Não existe conexão nenhuma, conversa nenhuma. Não existe nada." O

Mar 10, 2025 - 08:00
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Último bastião do PSDB, Alesp vislumbra debandada tucana

Enquanto futuro do partido é debatido em nível nacional, deputados estaduais atribuem crise à falta de diálogo e a Aécio; ao mesmo tempo, articulam possíveis migrações. Bancada do PSDB na Alesp Montagem/Alesp Quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) venceu a disputa pelo governo de São Paulo em 2022, um ciclo de quase três décadas chegou ao fim. Afinal, desde 1994, em sete eleições consecutivas, o PSDB venceu a disputa para o Palácio dos Bandeirantes. A vitória de Tarcísio quebrou essa hegemonia e colocou os tucanos diante de um cenário inédito: pela primeira vez em 28 anos, não tinham um governador no estado que sempre foi seu principal bastião. A derrota de Rodrigo Garcia foi o desfecho de uma crise que já vinha se desenhando, agravada por disputas internas entre João Doria e outras lideranças do partido. O racha levou o PSDB a abrir mão de uma candidatura própria à Presidência em 2022 —fato inédito em sua trajetória. Dois anos depois, outro agravamento: na janela partidária de 2024, oito vereadores tucanos da capital paulista deixaram a legenda, em abril. Em outubro, mais golpes: o partido não conseguiu eleger prefeitos em nenhuma capital brasileira, nem obteve representação na Câmara Municipal de São Paulo. Agora, com seu futuro incerto, o PSDB vê a possibilidade de fusão ou até mesmo de ser absorvido por outras siglas. Um dos últimos refúgios do partido é a Assembleia Legislativa de São Paulo, onde ainda é a terceira maior bancada —atrás de PL e PT—, com os seus 9 deputados somados aos 3 do Cidadania, com quem está federado até 2026. O g1 procurou os parlamentares tucanos para entender como eles enxergam esse cenário de perda de protagonismo do partido. A maior parte atendeu à reportagem. Os deputados Barros Munhoz, Carlão Pignatari, Mauro Bragato e Rogério Nogueira concordaram com que seus nomes fossem divulgados. Os demais pediram anonimato, para evitar eventuais represálias da Executiva Nacional do partido. Insatisfação com Aécio De maneira geral, os deputados citam uma insatisfação com a direção nacional do partido, presidido por Marconi Perillo. "Estamos sendo vendidos como um pacote", diz um parlamentar, sobre a falta de diálogo."Tirou-se toda a autoridade da executiva estadual, a liberdade e o poder de decisão da municipal também. Concentraram os poderes na mão de Aécio Neves, que não é um líder respeitado pelos deputados, por conta de toda a situação dele." Outro parlamentar lembra que o estado foi protagonista no pedido de expulsão de Aécio do partido. "Nós pedimos a expulsão dele, foi por aqui (SP) que saiu. E o Aécio não perdoou isso. Foi ele que fez todo esse movimento de lançar o Leite, que na verdade foi só para bater de frente com São Paulo, e acabar enfraquecendo o partido no estado", diz, em referência à briga interna pela candidatura à Presidência da República em 2022, quando João Doria venceu as prévias do partido, mas foi barrado em detrimento do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. A queda de braço teria sido, portanto, represália ao pedido de afastamento de Aécio feito por Doria. "É aquela coisa, 'levo a bola embora porque eu não vou jogar'. Aquela criancinha mimada. Então, não tivemos candidato, e isso matou o PSDB. Não foi o Doria, o Doria não traiu o Alckmin. O Aécio Neves destruiu o partido. E agora ele não quer uma fusão." O Aécio Neves que é o dono do partido hoje, e ele não quer perder os R$ 200 milhões do fundo eleitoral. Vai querer disputar (as eleições). Aí, quando não atingir a cláusula de desempenho, vai ter que fundir. A federação com o Cidadania teria sido também uma decisão monocrática de Aécio. "Não foi feita uma eleição dentro dos diretórios estaduais e municipais para saber se a gente queria. A gente tem diferenças regionais com o Cidadania." A formação de uma federação foi uma dentre várias medidas encaradas como autoritárias. "A gente elegeu aqui em São Paulo o (Marco) Vinholi de novo. Ele foi eleito quase por unanimidade (para presidente do diretório estadual). Cancelaram a eleição e nomearam o Paulo Serra. Isso tudo enfraqueceu o PSDB. Nem os próprios militantes aceitam. Falam: 'Eu votei que era para ir o Doria, não foi. Agora eu votei para o Vinholi continuar, não continuou. Então para que que a gente serve?'" Distanciamento Outro ponto levantado pelos parlamentares é a falta de identificação com o que a legenda se tornou nos últimos anos. Citam o exemplo de tucanos históricos como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, que governou o estado por 12 anos e se desfiliou para integrar a chapa de Lula à Presidência, pelo PSB. "Estamos nos sentindo deslocados da origem do nosso partido, da questão ideológica, de líderes que a gente respeita e que fizeram história no país e no estado de São Paulo. Hoje, nós estamos sem líder." O decano Mauro Bragato iniciou a vida como deputado estadual há 46 anos e é outro que aponta esse afastamento. "Não existe conexão nenhuma, conversa nenhuma. Não existe nada." O partido chegou num ponto que não tem mais condição de ficar nele. Porque não existe o partido. Em seu 11º mandato, Bragato explica que o ônus da crise para os deputados vai além de seus gabinetes. "A preocupação que eu tenho é que eu tenho um grupo grande de gente no interior, filiado ao PSDB, que é vinculado a mim. Alguns até já saíram. E aí nós temos eleição no ano que vem. Como é que a gente se situa nesse quadro?" O decano Mauro Bragato, que iniciou a trajetória como deputado estadual em 1979 Alesp O deputado diz que deve aceitar convite de Kassab para se filiar ao PSD, que elegeu 206 prefeitos no estado em 2024. "Entrando agora ou na frente, vou trazer prefeitos, vereadores. Não tanto quanto a gente tinha há pouco tempo atrás, porque eles foram antes." Fusão ou incorporação Uma das hipóteses que surgiu como destino no início das conversas entre os partidos era a incorporação do PSDB pelo PSD, de Gilberto Kassab, hoje secretário no governo de Tarcísio. Nessa possibilidade, o partido deixaria de existir, e seus quadros passariam a integrar o PSD. "A coisa estava caminhando celeremente. Aí começou a haver uma participação muito forte do Aécio contra a fusão. Ele defende que o PSDB perdure, e que se una preferencialmente ao MDB, ao Podemos, partidos menores que o PSD", conta um dos tucanos. "O PSDB sozinho não se sustenta mais. É uma unanimidade entre nós aqui, os nove deputados." Esses três partidos são os que mais têm dialogado com os parlamentares em nível individual, além do PL e do Republicanos, segundo esse parlamentar. O Republicanos, inclusive, é o destino natural de Ortiz Júnior, o mais recente deputado estadual do partido. Ele assumiu no início de 2025 a cadeira deixada por Vinícius Camarinha, que se elegeu prefeito em Marília. Ortiz Júnior era o suplente imediato de Camarinha, mas tinha deixado o partido e disputou a Prefeitura de Taubaté pelo Republicanos. Com a saída de Camarinha, Ortiz se refiliou ao PSDB para assegurar a vaga na Assembleia, o que foi questionado pelos tucanos. O novo deputado não confirma mais uma saída. Último presidente deve alinhar destino com Tarcísio O último tucano a ser presidente da Alesp, Carlão Pignatari (2021-2023) informou que aguarda as tratativas do partido sobre uma eventual fusão com o PSD ou com o MDB. A partir daí, irá "conversar com o governador e ver qual o melhor partido que ele indica". Ainda no primeiro ano de governo, o nome de Carlão foi ligado justamente ao partido de Tarcísio, o Republicanos. Carlão Pignatari, último presidente tucano da Alesp Alesp Segundo secretário defende obediência à executiva nacional Rogério Nogueira, atual titular do assento na Mesa Diretora que cabe ao PSDB, o da 2ª Secretaria, afirmou não caber aos deputados uma definição. "Essa é uma decisão nacional que vem tomando corpo e estamos acompanhando o que pode acontecer. Aceito qualquer decisão que vier, tanto estadual quando nacional, de fusão e incorporação. O partido que incorporar, eu permaneço." Apesar de pregar a obediência hierárquica, Nogueira deixa em aberto a possibilidade de mudança na próxima janela partidária. "Só vou pensar em futuro de partido em 2026, quando abrir a janela que os deputados podem escolher em qual disputarão eleição." O deputado Rogério Nogueira, atual 2º secretário da Alesp Alesp No próximo sábado (15), os 94 deputados votam a eleição da nova Mesa Diretora, que vai comandar a Casa no segundo biênio da legislatura atual. O PSDB tem assento garantido na Mesa devido a um acordo de proporcionalidade, que distribui os cargos de acordo com o tamanho das bancadas. Assim, André do Prado (PL) deve ser reeleito presidente, a 1ª Secretaria seguirá com o PT, mas com outro deputado —sai Barba, entra Maurici ou Beth Sahão, que travam disputa interna— e o PSDB mantém a 2ª Secretaria, hoje com Rogério Nogueira. Barros Munhoz é quem deve ficar com o cargo. O deputado, que participou da Constituinte paulista, foi duas vezes presidente, e líder do governo, pede que a decisão nacional pelo futuro do partido aguarde essa eleição de sábado, para não "conturbar" o ambiente. "(A 2ª Secretaria) é uma posição importantíssima", diz. "Ela comanda a casa juntamente com o primeiro secretário e com o presidente. É um triunvirato." Barros Munhoz presidiu a Alesp duas vezes e deve ocupar assento na próxima Mesa Diretora Alesp 'Ideal seria seguirmos solo, mas ficamos pequenos', diz presidente do PSDB sobre possível fusão