Uma em cada seis moradoras da Maré fez um aborto até os 40 anos, aponta pesquisa da Redes da Maré
A pesquisa foi feita entre março de 2023 e setembro de 2024 com mais de 500 mulheres em duas etapas. Pílulas anticoncepcionais são método mais frequente para evitar gravidez indesejada Getty Images via BBC Uma pesquisa divulgada pela ONG Redes da Maré aponta que 1 a cada 6 mulheres do Complexo da Maré fez um aborto até os 40 anos. O relatório será apresentado neste sábado (9) em um evento na comunidade, que conta com o encerramento um show da Leci Brandão no Parque União. De acordo com as pesquisadoras, a iniciativa do estudo começou depois que uma gerente de uma Clínica da Família relatou que muitas mulheres estavam engravidando de forma não planejada enquanto aguardavam na fila para aplicação do DIU pelo Sistema Único de Saúde. A gravidez indesejada, falta de recursos financeiros e rede de apoio para manter as crianças foram motivos para decisões pelo aborto apresentados no relatório pelas mulheres entrevistadas. Uma das entrevistadas é uma moça de 25 anos, que engravidou depois de passar quase 10 anos tentando acessar contraceptivos, exames, como preventivos, e consultas periódicas na Clínica da Família. “Como resultado, apesar de sua insistência em vários serviços, nunca teve acesso a qualquer consulta ginecológica ou orientação sobre contracepção. Passou a se automedicar. Tomou anticoncepcional até os 19 anos, quando teve um aborto espontâneo e descobriu que a pílula havia falhado”, conta a pesquisadora Carla de Castro. “Por isso, quis colocar o DIU, mas foi novamente informada de que só seria possível ao completar 25 anos. Engravidou aos 24, quando aguardava na fila do DIU. Só conseguiu acesso a consultas quando estava grávida. Aos profissionais de saúde ela uma vez disse: ‘vocês preferem fazer um pré-natal do que um preventivo’”, completa. A pesquisa foi desenvolvida de março de 2023 até setembro de 2024 e entrevistou 504 mulheres de 18 a 39 anos, que responderam a dois questionários em suas casas e uma outra etapa que coletou relatos de moradoras que já tinham abortado. Segundo o levantamento, 8 em cada 10 mulheres que já fizeram aborto na Maré têm filhos, representando 79% delas. Veja alguns dados: É estimado que 290 mulheres abortem por ano no Complexo da Maré; Duas a cada cinco mulheres na Maré fizeram seu primeiro aborto ainda na adolescência, até os dezenove anos; Não há um perfil específico de mulheres que abortam: as taxas são distribuídas em todas as faixas etárias, entre mulheres de todas as religiões, cor, raça e escolaridade; Quatro em cada dez mulheres da Maré (39%) que abortaram foram hospitalizadas para finalizar um aborto. Segundo os relatos, as internações foram, muitas vezes, causadas pelo uso de medicações abortivas com uma dosagem inferior e por sangramentos retidos que poderiam gerar infecções nas pacientes. O relatório encerra fazendo recomendações ao poder público como políticas de contracepção que podem ser adotadas para diminuir essa incidência, treinamentos para profissionais de saúde sobre direitos sexuais, além de reconhecimento do valor econômico e social da maternidade.
A pesquisa foi feita entre março de 2023 e setembro de 2024 com mais de 500 mulheres em duas etapas. Pílulas anticoncepcionais são método mais frequente para evitar gravidez indesejada Getty Images via BBC Uma pesquisa divulgada pela ONG Redes da Maré aponta que 1 a cada 6 mulheres do Complexo da Maré fez um aborto até os 40 anos. O relatório será apresentado neste sábado (9) em um evento na comunidade, que conta com o encerramento um show da Leci Brandão no Parque União. De acordo com as pesquisadoras, a iniciativa do estudo começou depois que uma gerente de uma Clínica da Família relatou que muitas mulheres estavam engravidando de forma não planejada enquanto aguardavam na fila para aplicação do DIU pelo Sistema Único de Saúde. A gravidez indesejada, falta de recursos financeiros e rede de apoio para manter as crianças foram motivos para decisões pelo aborto apresentados no relatório pelas mulheres entrevistadas. Uma das entrevistadas é uma moça de 25 anos, que engravidou depois de passar quase 10 anos tentando acessar contraceptivos, exames, como preventivos, e consultas periódicas na Clínica da Família. “Como resultado, apesar de sua insistência em vários serviços, nunca teve acesso a qualquer consulta ginecológica ou orientação sobre contracepção. Passou a se automedicar. Tomou anticoncepcional até os 19 anos, quando teve um aborto espontâneo e descobriu que a pílula havia falhado”, conta a pesquisadora Carla de Castro. “Por isso, quis colocar o DIU, mas foi novamente informada de que só seria possível ao completar 25 anos. Engravidou aos 24, quando aguardava na fila do DIU. Só conseguiu acesso a consultas quando estava grávida. Aos profissionais de saúde ela uma vez disse: ‘vocês preferem fazer um pré-natal do que um preventivo’”, completa. A pesquisa foi desenvolvida de março de 2023 até setembro de 2024 e entrevistou 504 mulheres de 18 a 39 anos, que responderam a dois questionários em suas casas e uma outra etapa que coletou relatos de moradoras que já tinham abortado. Segundo o levantamento, 8 em cada 10 mulheres que já fizeram aborto na Maré têm filhos, representando 79% delas. Veja alguns dados: É estimado que 290 mulheres abortem por ano no Complexo da Maré; Duas a cada cinco mulheres na Maré fizeram seu primeiro aborto ainda na adolescência, até os dezenove anos; Não há um perfil específico de mulheres que abortam: as taxas são distribuídas em todas as faixas etárias, entre mulheres de todas as religiões, cor, raça e escolaridade; Quatro em cada dez mulheres da Maré (39%) que abortaram foram hospitalizadas para finalizar um aborto. Segundo os relatos, as internações foram, muitas vezes, causadas pelo uso de medicações abortivas com uma dosagem inferior e por sangramentos retidos que poderiam gerar infecções nas pacientes. O relatório encerra fazendo recomendações ao poder público como políticas de contracepção que podem ser adotadas para diminuir essa incidência, treinamentos para profissionais de saúde sobre direitos sexuais, além de reconhecimento do valor econômico e social da maternidade.