'Frases misteriosas' nas capas de provas do Enem são de poetisa negra; veja

Cadernos de prova do Enem tinham na capa, além de informações da prova, frases de poetisa negra brasileira. Prova teve como tema da redação valorização da herança africana. Fome, inflação e pobreza vividas pela escritora negra Carolina Maria de Jesus na década de 1950 se assemelham à realidade dos mais pobres na pandemia Divulgação Os cadernos de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 abriam com frases de textos e poemas retirados das obras de Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do país. Neta de escravos e filha de mãe analfabeta, Carolina nasceu em Minas Gerais e, em 1947, veio para São Paulo. Ela foi morar na favela do Canindé, que ficava às margens do Rio Tietê, e trabalhava como catadora. Na prova deste domingo, quatro fases da autora estampavam os cadernos: Quem inventou a fome são os que comem Lá no interior eu era feliz, tinha paz Percebi que sou poetisa fiquei triste O arco-íris foge de mim - Quarto de despejo Os trechos são de obras como Quarto de Despejo e Meu estranho diário, uma coletânea com registros exclusivos do diário mantido pela autora. LEIA TAMBÉM: AO VIVO: gabarito do Enem e correção das questões GABARITO EXTRAOFICIAL: confira as respostas do seu caderno de prova O que nos une: conheça a escritora Carolina Maria de Jesus Quem era Carolina Maria de Jesus Nascida em Sacramento no dia 14 de março de 1914, Carolina Maria de Jesus viveu boa parte da vida na favela do Canindé, em São Paulo. Autora de obras clássicas da literatura brasileira, a escritora começou a ficar famosa em 1958, quando trechos do diário dela, que trabalhava como catadora de papel, foram publicados pelo extinto jornal "A Noite". Ela tinha cadernos com romances e poemas que começou a escrever na infância, ainda em Sacramento. Carolina Maria de Jesus só estudou dois anos, que foram suficientes para ela criar uma paixão pela escrita. Em sua jornada à São Paulo passou por momentos difíceis, encarando, inclusive, a fome. Dessa experiência e de uma profunda capacidade de observação, ela tirou a inspiração para escrever a sua principal obra: "Quarto de Despejo". A obra foi publicada em 1960. O livro foi um sucesso, com mais de 3 milhões de cópias traduzidas em 16 idiomas e levou Carolina Maria de Jesus a percorrer o país. Multiartista, ela também ganhou visibilidade como cantora, escritora de contos, crônicas, letras de música, peças de teatro e artista têxtil. Carolina Maria de Jesus morreu nos anos 70. Hoje, sua herança está sendo disputada na Justiça pelas netas e pela filha da autora. Carolina Maria de Jesus Divulgação-Museu Afro Brasil A questão racial no Enem As frases da autora nos cadernos de prova já traziam o tom do exame deste ano que teve como tema da redação a valorização da herança africana. Os textos base trouxeram trechos que debatiam a importância do legado dos povos no país, a forma como, ao longo do tempo, sua herança foi sendo colocada no campo do 'folclore'. Além de um samba enredo da Mangueira, de 2019 que diz: Brasil, meu nego, deixa eu te contar a história que a história não conta.

Nov 3, 2024 - 21:30
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'Frases misteriosas' nas capas de provas do Enem são de poetisa negra; veja

Cadernos de prova do Enem tinham na capa, além de informações da prova, frases de poetisa negra brasileira. Prova teve como tema da redação valorização da herança africana. Fome, inflação e pobreza vividas pela escritora negra Carolina Maria de Jesus na década de 1950 se assemelham à realidade dos mais pobres na pandemia Divulgação Os cadernos de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 abriam com frases de textos e poemas retirados das obras de Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do país. Neta de escravos e filha de mãe analfabeta, Carolina nasceu em Minas Gerais e, em 1947, veio para São Paulo. Ela foi morar na favela do Canindé, que ficava às margens do Rio Tietê, e trabalhava como catadora. Na prova deste domingo, quatro fases da autora estampavam os cadernos: Quem inventou a fome são os que comem Lá no interior eu era feliz, tinha paz Percebi que sou poetisa fiquei triste O arco-íris foge de mim - Quarto de despejo Os trechos são de obras como Quarto de Despejo e Meu estranho diário, uma coletânea com registros exclusivos do diário mantido pela autora. LEIA TAMBÉM: AO VIVO: gabarito do Enem e correção das questões GABARITO EXTRAOFICIAL: confira as respostas do seu caderno de prova O que nos une: conheça a escritora Carolina Maria de Jesus Quem era Carolina Maria de Jesus Nascida em Sacramento no dia 14 de março de 1914, Carolina Maria de Jesus viveu boa parte da vida na favela do Canindé, em São Paulo. Autora de obras clássicas da literatura brasileira, a escritora começou a ficar famosa em 1958, quando trechos do diário dela, que trabalhava como catadora de papel, foram publicados pelo extinto jornal "A Noite". Ela tinha cadernos com romances e poemas que começou a escrever na infância, ainda em Sacramento. Carolina Maria de Jesus só estudou dois anos, que foram suficientes para ela criar uma paixão pela escrita. Em sua jornada à São Paulo passou por momentos difíceis, encarando, inclusive, a fome. Dessa experiência e de uma profunda capacidade de observação, ela tirou a inspiração para escrever a sua principal obra: "Quarto de Despejo". A obra foi publicada em 1960. O livro foi um sucesso, com mais de 3 milhões de cópias traduzidas em 16 idiomas e levou Carolina Maria de Jesus a percorrer o país. Multiartista, ela também ganhou visibilidade como cantora, escritora de contos, crônicas, letras de música, peças de teatro e artista têxtil. Carolina Maria de Jesus morreu nos anos 70. Hoje, sua herança está sendo disputada na Justiça pelas netas e pela filha da autora. Carolina Maria de Jesus Divulgação-Museu Afro Brasil A questão racial no Enem As frases da autora nos cadernos de prova já traziam o tom do exame deste ano que teve como tema da redação a valorização da herança africana. Os textos base trouxeram trechos que debatiam a importância do legado dos povos no país, a forma como, ao longo do tempo, sua herança foi sendo colocada no campo do 'folclore'. Além de um samba enredo da Mangueira, de 2019 que diz: Brasil, meu nego, deixa eu te contar a história que a história não conta.